07/06/2010

Perdi

O branco puro do papel me encara severamente. O lápis apertado em minhas mãos. Desde quando fora tão difícil transmitir uma idéia da mente para o papel? Arrisco escrever uma palavra, mas falho miseravelmente. Apago. Não é que eu não saiba fazê-lo, apenas esqueci-me de como. Papel e lápis apenas não bastam – reflito – mesmo que acompanhados de uma mente repleta de idéias – desisto. O papel continua imaculado. Abandono-os. Papel e lápis que se entendam! Deito e fecho os olhos. Não durmo. A mente atormenta. Insisto. Persisto. Desisto. A mente é mais forte que o corpo, sempre foi. Mas não é só dela, ou do papel ou da caneta que dependo. 

Ah! Se fosse! Escrever, como bem sabes, também é paixão e quando não há mais desta em um escritor sua escrita se torna miserável. Então ele falha pela primeira vez e, tão logo, falhará a segunda - uma vez que a segunda consiste na conseqüência da primeira - e ele falha como homem, pois também perdeu o seu amor. A terceira e ultima falha acontece quando o homem – na percepção das falhas anteriores – perde a esperança e a fé e, por fim, perde a si mesmo. De que vale a vida quando o coração se torna raso e a alma fraca? De nada, eu lhe digo, querido leitor. De nada!

Ah! Se soubesses como se tornam frias e solitárias as noites de um homem que perdeu o calor da paixão em suas palavras - e em si.

Tento mais uma vez. Sento em frente ao papel e seguro o lápis firmemente na mão, como se ele quisesse escapar – e talvez ele devesse -, mas ele não tenta. Penso. Tento. Contudo, nada sai, nem uma rasura sequer.

Adeus! Talvez seja dado o momento da despedida. Falhei as três vezes. Perdi a paixão, o amor e a esperança. Sem esperança não há fé, não há nada. E não há mais nada a ganhar ou perder. Não há. É o fim. Perdi.

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